“Necessária, mas não imprescindível”, afirma comandante dos bombeiros sobre autoescada para combate a incêndios

“Necessária, mas não imprescindível”, afirma comandante dos bombeiros sobre autoescada para combate a incêndios

Foto: Cristian de Moraes Teixeira (Especial)

O prédio do Colégio Marista Santa Maria passará por uma nova perícia técnica nesta segunda-feira (29), como parte da investigação conduzida pela Polícia Civil sobre o incêndio que atingiu a instituição na noite de sexta (26).

O incêndio que atingiu o Colégio Marista Santa Maria, na noite de sexta-feira (26), trouxe à tona o debate sobre a estrutura disponível para o Corpo de Bombeiros no interior do Estado, especialmente em relação à ausência de uma autoescada mecânica no município, também conhecida popularmente como escada Magirus, em função da marca. Em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade, da Rádio CDN, nesta segunda-feira (29), o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, coronel Julimar Fortes Pinheiro, afirmou que a falta do equipamento não comprometeu a resposta operacional nem o combate às chamas.

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O equipamento, que pode ter custo superior a R$ 10 milhões, já fez parte da estrutura do Corpo de Bombeiros em Santa Maria. Em 2012, montada sobre um caminhão Mercedes-Benz, a escada foi incorporada à frota e operava a partir do quartel central da Rua Coronel Niederauer. Em 2016, a corporação chegou a anunciar a abertura de uma licitação para a aquisição de uma nova autoescada, mas o processo não teve continuidade.

O coronel reforçou que a autoescada mecânica é, sim, um equipamento necessário dentro da estrutura do Corpo de Bombeiros, mas explicou que ela não é imprescindível para todos os tipos de ocorrência.

— Não é correto dizer que ela não era necessária. Todos os equipamentos são necessários. Porém, ela não era imprescindível diante de outros equipamentos. [...] A principal missão da autoescada mecânica é o salvamento em altura. Ela é o primeiro motivo para termos esse equipamento. No combate a incêndio, ela atua de forma complementar, potencializando a capacidade de resposta em situações mais extremas [...] — explica.

No caso do Colégio Marista, ele reforça que a falta do equipamento não fragilizou o combate às chamas. Na ocorrência, foram mobilizados cinco caminhões de combate a incêndio e cerca de 60 bombeiros militares.

— Se houvesse uma autoescada mecânica (em Santa Maria), ela seria utilizada naquele sinistro. Mas isso não significa que a operação ficou fragilizada. Uma autoescada mecânica sem o suprimento de água que se estabelece a partir de um caminhão de combate a incêndio, a partir de um autotanque, ela não teria serventia para uma ocorrência como essa.

Além disso, trazer o equipamento de outra cidade também não era uma opção viável por conta do tempo de deslocamento.

— Não caberia trazer uma autoescada de Porto Alegre ou de Caxias do Sul, com um tempo resposta em torno de quatro horas, sendo que o incêndio foi totalmente debelado nesse mesmo período.

O coronel explicou ainda que o nome “Magirus”, usado como sinônimo de autoescada, refere-se a uma marca específica e não ao tipo de equipamento em si:

— Eu peço que não utilizem o termo Magirus, porque Magirus é uma marca. Existem outras fabricantes, como a Rosenbauer. Todas são de origem estrangeira e têm alto nível tecnológico.

Estado tem duas autoescadas em operação e Santa Maria está no planejamento

Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com duas autoescadas mecânicas em condições operacionais: uma em Porto Alegre, com 55 metros, e outra em Caxias do Sul, com 42 metros, sendo esta articulada e capaz de operar em ângulos negativos.

Segundo o coronel, a aquisição de novas autoescadas faz parte do planejamento estratégico da corporação, e Santa Maria está entre os municípios previstos para receber o equipamento no futuro. Cidades como Pelotas, Novo Hamburgo e Passo Fundo também estão na lista para receber o equipamento. 

No entanto, um dos principais entraves para a ampliação da frota de autoescadas, conforme explicou o comandante, é o alto custo do equipamento e o longo prazo de fabricação, já que se trata de um produto importado e não disponível em estoque imediato.

— Hoje uma autoescada mecânica custa em torno de 1,6 milhão de euros, o que dá cerca de R$ 11 milhões ou até mais, dependendo da cotação. Não é um produto de prateleira. Ela leva em torno de um ano para ser fabricada.

Por isso, segundo ele, o Corpo de Bombeiros precisa conciliar as necessidades com a capacidade de investimento, priorizando aquilo que traz maior impacto imediato à operação.

— Se eu tivesse investido todos os recursos em autoescadas e não renovasse a frota de caminhões, eu teria caminhões da década de 1980 chegando nas ocorrências.

Santa Maria está bem equipada e com frota renovada, afirma comandante

O coronel reforçou que o Corpo de Bombeiros de Santa Maria vive um momento logístico favorável, com frota renovada e equipamentos adequados para atendimento à população.

— Não podemos dizer que Santa Maria não está bem assistida. Pelo contrário, estamos num momento logístico muito favorável

Ele detalhou os veículos disponíveis na cidade, incluindo caminhões adquiridos em 2017, 2023 e 2025, com capacidade entre 4.500 e 5.000 litros de água, além de líquido gerador de espuma.

— O caminhão mais novo de Santa Maria chegou em 2025, com capacidade de 4.500 litros de água e 200 litros de líquido gerador de espuma.

Quartéis funcionam em sistema de rodízio por limitação de efetivo

Atualmente, Santa Maria conta com três quartéis do Corpo de Bombeiros Militar. O quartel central está sediado no 4º Batalhão de Bombeiro Militar (4º BBM), na Rua Coronel Niederauer. As outras duas unidades estão localizadas no distrito de Camobi, próximo à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e no Bairro Parque Pinheiro Machado. Conforme explicou o comandante-geral, nenhuma das estruturas foi desativada. O funcionamento ocorre em sistema de rodízio, em função do efetivo que não permite o funcionamento pleno de todas as unidades em tempo integral.

Segundo o coronel, a estratégia operacional prioriza a manutenção permanente do quartel central, que permanece aberto ininterruptamente e concentra as principais guarnições de combate a incêndio e atendimento de emergência. A unidade de Camobi opera com guarnição mínima, garantindo cobertura básica à região leste da cidade e apoio às ocorrências quando necessário.

Já o quartel do Parque Pinheiro Machado atua exclusivamente como base de salvamento. De acordo com o comandante, a unidade não dispõe de guarnições de pronta resposta para combate a incêndio nem para atendimento pré-hospitalar, concentrando suas atividades em ações específicas de salvamento. No local, também funciona o canil do Corpo de Bombeiros, utilizado em operações especializadas, como buscas e apoio em ocorrências que demandam esse tipo de recurso.

Investimentos históricos e reforço no efetivo

Segundo o comandante-geral, o Corpo de Bombeiros Militar do RS vive um dos maiores ciclos de investimentos de sua história, com aportes que ultrapassam R$ 300 milhões em viaturas, equipamentos e até uma nova aeronave. Na área de recursos humanos, o coronel informou que há concurso em andamento para 400 soldados de carreira e a inclusão de 544 bombeiros militares temporários, que devem reforçar o efetivo nos próximos anos.

— Hoje temos cerca de 3 mil bombeiros em atividade. Com essas inclusões, vamos chegar muito próximos do efetivo previsto e melhorar significativamente a capacidade operacional.

Reconhecimento 

No fim da entrevista, o comandante fez questão de destacar o trabalho dos bombeiros militares que atuaram na ocorrência.

— Eu aproveito o espaço para homenagear e ressaltar o excelente trabalho realizado no atendimento ao Colégio Marista, graças aos homens e mulheres do fogo, nossos combatentes, os bravos bombeiros e bombeiras militares da ativa e até alguns da reserva, que se propuseram a nos auxiliar. Houve uma mobilização de todas as forças de segurança pública, de maneira muito coesa, profissional e com grande capacidade de resposta, que realizaram um excelente trabalho. O trabalho foi exitoso por vários motivos, mas o principal é que nós não tivemos nenhuma perda de vida humana, que essa é a nossa principal missão, salvar vidas e, também, proteger patrimônios. Isso precisa ser ressaltado, porque por vezes ficamos olhando apenas para aspectos complementares e tentando dar um ar negativo àquilo que foi muito positivo. Foi uma operação exitosa e que nos orgulha, por contar com homens e mulheres de plena coragem física, coragem moral, grande capacidade técnica e uma entrega operacional inimaginável. Santa Maria está muito bem servida pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Parabéns a todas as equipes que atuaram, e que a comunidade tenha a certeza de que está muito bem assistida pelo nosso Corpo de Bombeiros Militar de Santa Maria.

Próximos passos

Uma nova perícia será realizada no prédio do Colégio Marista Santa Maria nesta segunda-feira (29) e será conduzida por uma equipe especializada do Instituto-Geral de Perícias (IGP), vinda de Porto Alegre, com experiência em ocorrências envolvendo incêndios. 

Ainda segundo o comandante-geral, o colégio possuía o Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) válido e em conformidade com a legislação vigente, com alvará em dia até 2029. 

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